domingo, 11 de julho de 2021

Perdoa-me

 Dito infinitas vezes,

repetido indefinidamente.

O que sou para ti,

distinta vida minha?

Que me queres, quanto ainda falta?

Somos um ou dois?

Não que eu fuja, me retire,

como outrora já o fiz.

Estou assim, enquanto forças houver.

Não quero mais pensar ou supor

caminhos ou soluções: és tu e só tu.

Resigno-me, decide tu.

Apenas tento controlar a respiração, 

o bater do coração, quase sem alma.

Haverão sempre linhas invisiveis,

mas que eu heide cuidar para existirem,

sempre e para todo o sempre.

Tomo-te nas minhas mãos,

ainda tenra alegria,

que agora partiste. Mas porquê assim?



Lugar das Agras, 11 de Julho de 2021


quinta-feira, 13 de maio de 2021

Esperança


Vivo tão perto da esperança,

que desejo tanto que aconteça.

E é neste estar , assim, sem findar,

que me arrasto, tentando caminhar.

E se a vida se prolongar neste andar,

nesta esperança imensurável,

que teima em não se resignar?

Que forças ainda me restam,

tão grande é o esforço continuado?

Merecerei alguma luz, algum calor,

um abraço seja de quem for,

de alguém por mim amado?

Sentirei o amor de quem me ama,

com tanta dor no corpo e na alma?

- Sim, só pode ser assim, porque sim, 

porque a teu lado caminharei,

e, se preciso for, me deitarei.

Ficaremos a ver as estrelas chorarem,

o mais que infinito no olhar, ao olhar.

E se assim tiver que ser,

até nós peregrinaram todas as vidas

que tem luz e calor para nos aconchegarem,

nos embalarem, lembrando o que somos,

porque seremos sempre o que desejarmos ser,

o que sonhamos, desenhado e construido

com todas as pedras da caminhada calçada.


Agras, 13 de Maio de 2021 

 

terça-feira, 20 de abril de 2021

De partida

Estou, estando indefinidamente, assim...

Não me cabe definir em palavras,

se coragem me falta para te abraçar.

Por uma última vez que seja,

jão não suporto mais.

Pedes-me com o olhar,

esse lindo olhar que eu sempre amarei.

Não suporto mais, tenho que fugir...

E não deixo de levar-te comigo, 

sempre fugindo, sempre fugindo...

De que me fiz, de que substância

todo o meu ser é composto?

Que raio me havia de acontecer,

sempre e sempre?

O que é que eu fiz, ou não?

Então, não era assim que a vida era para ser?

Então, como é que era para fazer?

E o amor, o amar, o dar-se por completo?

Não era bem assim? Então de que jeito?

Compreendi tudo errado, virado?

E agora, que não sei ser de outro jeito?


Lugar das Agras, do meu sitio, a vinte de Abril de dois mil e vinte e um

terça-feira, 13 de abril de 2021

Dor

 Devo aqui estar, só porque estou?

Devo assim pensar, sentir?

E se assim não tivesse que ser?

E se eu pudesse pintar com as cores todas,

todas as telas que ainda vou lembrando?

Sem mudar a ordem natural,

apenas compondo aqui e ali,

o que não foi feito, o que devia ter sido falado.

Prolongar aqueles momentos, 

instantes que queria ainda presentes.

O que é que a vida já me disse,

e eu ainda não ouvi?

Repete as vezes que forem precisas,

sempre até eu ouvir, te ouvir.

Diz-me vida, o que é que eu faço?

Tudo está diante de mim, 

e eu sem saber o que fazer.

Como posso ter tanta tristeza em mim?

Porque não consigo ver alguma alegria?

Mudo, estarei cego e surdo? 

Haja quem me veja, me acuda. 

domingo, 15 de novembro de 2020

Desejo de querer

 E se eu quisesse falar contigo, 

estar contigo?

Apenas contigo, rodeados apenas pela memória

que se sedimentou há infinitos anos?

Porque não tem fim o que desejamos,

o que ainda e sempre ansiamos.

Não devo estar senil, ter perdido a noção

de estar de pé, acordado, ainda caminhante...

Como entretenho minha essência de ser,

se nunca o pude ser?

Acordes de uma melodia que continuo a inventar,

um alinhar de sons e estados de alma.

Não desejo que a quietude da alma me embale

me adormeça para nada sentir, sem poder sonhar.

Acho que sei como é o Universo (pura e sublime petulância minha).

Penso mesmo que o consigo entender, mesmo no que não é entendivel,

compreensivel à luz dos conhecimentos e capacidades que me constituem.

Sou matéria, mas sinto não o ser apenas e só.

Trancende-me o pensamento de  estar para além do mensurável.

Confuso quando quero que diversos universos vivam em sintonia,

não se aniquilem nem se sobreponham. Apenas existam a cada momento,

no momento que assim deve ser. Sem me desiquilibrarem, amputarem

as forças que ainda tenho e quero manter. Porque desejo ser também matéria,

algo que possa tocar, sentir o que só assim se deve sentir. Não uma ilusão que sabemos existir.

Poderei ser enganado no universo dos sentidos, matéria ou não matéria?

Porqu entendo apenas existir a matéria e a não matéria. 

 



sábado, 9 de novembro de 2019

Sou de mim, sou de ti, sou....
Sou de saudade, de muita tristeza ,
alguma alegria.
Sou de quem me toca,
de quem eu quero tocar.
Sou da chuva, do vento,
do sol de inverno.
Sou riacho sem fundo,
cascata desvairada.
Sou pequenez e cobardia
junto aos sonhos que sonho,
sonhando em claro dia.
Como eu desejo tanto ser
sonho encantado de mim.
Correr, sem medo da encosta íngreme,
deixar-me voar, de um jeito tranquilo,
planar como o milhafre lá em cima.
E nada mais me querer,
eu querer.
E, como que magia da natureza,
dissipar-me como neblina matinal,
nunca deixando de existir.


Agras, 09/11/2019

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A uma colega de infância

O tempo, sempre o tempo. O tempo que faz, o tempo que passou, o que se espera estar para vir. Gostamos de o medir, quantificar, assim como quase todas as outras "coisas" da vida. Ao certo nunca saberemos o que somos no tempo presente e no futuro. Sabemos mais ou menos com alguma precisão aquilo que sentimos a cada instante. Observamos-nos de dentro e tentamos também de "fora". Todo o nosso comportamento e sentir está impregnado de uma infinidade de condicionantes que, mesmo que tentássemos, não conseguimos pormenorizar, saber de onde podem ter vindo. Herança genética, "aprendizagem" no decurso da vida. Absorvemos o que absorvemos, nem todos da mesma forma, somos selectivos. E porque o somos, e o que nos leva a absorver umas coisas e outras não? O que acaba ficando no nosso baú das memórias, que quando temos oportunidade vamos vasculhar, colocar à janela para "assoalharem"? E existem determinados estados presentes que nos fazem quedar. Nesse instante apenas passa a existir um único propósito no nosso pensamento: o porquê do que aconteceu, a frustração quando descobrimos que mais nada há a fazer, que a vida terminou definitivamente, que nada mais há a acrescentar, se pode acrescentar. E lá vem as memórias para o espírito atormentar, trespassando em tudo que é sitio, derramando todo o sangue que existir dentro de nós. E não nos opomos, não resistimos ou fugimos, um ficar querendo sem sequer o ter em mente. E ficamos sombrios, carregados como o céu assim fica antes da tempestade, que não tarda, vai rebentar. Medonha, de força e determinação quão cão enraivecido. Fustiga a terra com uma infinidade de minúsculas lanças pontiagudas, e de quando em vez os relâmpagos cegam-nos na escuridão a que já nos íamos acostumando. Só nos apetece chorar, largar tudo que temos entre mãos, e soltar uma corrida tão desenfreada que de volta aio tempo real das memórias nos pudesse transportar, em corpo e alma. 
Esses instantes prolongam-se, ressuscitam de tempos a tempos, como réplicas que se vão desvanecendo, e vamos adormecendo enquanto a tempestade, também Ela, vai esmorecendo. Será mais ao longe que lançaremos um "derradeiro" olhar, mas que se irá sempre repetir enquanto as memórias não se apagarem de todo, enquanto ainda um tempo houver.